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Mosteiro de Tibães: o dialogismo entre património e comunidade

“Sem comunidade não há património”. Esta afirmação, proferida pela Dra. Aida Mata, responsável do Mosteiro de Tibães entre 1987 e 2009, durante a sessão de trabalho inserida no ciclo Percursos Profissionais na Área da Cultura e promovida pelo Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura da Universidade do Minho, é significativa da importância de um olhar cultural que se pretende inclusivo: a materialidade e a imaterialidade fundem-se num projecto que traz de volta a riqueza de um espaço que se pretende dinâmico e habitado.

Igreja do Mosteiro de Tibães

É em finais do século XI que a Congregação Beneditina do Mosteiro vê outorgada a carta de couto que lhe dá a imunidade perante os impostos e a justiça régios e que faz com que o espaço monacal se desenvolva.  As contribuições aumentam o pecúlio económico que vai sendo utilizado na manutenção do espaço conventual e na prestação de serviços à comunidade, como por exemplo a produção de bens alimentares e de medicamentos.

Passadiço

O mosteiro, casa-mãe da Congregação de S. Bento de Portugal e do Brasil, vê os seus bens inventariados e vendidos em hasta pública em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas. Entre 1834 e 1986, o Mosteiro de Tibães passa a ser de uso privado, com excepção da Igreja, Sacristia e Claustro do Cemitério. Estes espaços permanecem ao serviço do culto religioso comunitário. Neste período são várias as transformações que sofre, seja pela via da alienação patrimonial, seja pela via de diversos usos do espaço.

Em 1986, o Estado Português adquire a propriedade, sendo então encetado um programa de reuso, interpretação, consolidação e preservação do património existente. Este programa prentende dotar o mosteiro das infraestruturas necessárias para um adequado acolhimento do público, tentando simultaneamente restituir uma memória extremamente bem documentada pelos registos beneditinos. O trabalho efectuado pelas equipas de profissionais, desde 1987, fez do Mosteiro de Tibães um espaço onde reencontramos o passado, sem esquecermos o presente, como atesta a sua correcta reabilitação através de uma política de proximidade que privilegia a comunidade local. Hoje, no Mosteiro de Tibães, o passado e a contemporaneidade diluem a artificialidade das divisões culturais e acentuam a necessidade de um permanente devir cultural e de uma reapropriação que vive de elementos de objectivação que tendem a estender-se na sua idiossincrasia.

Jardim de S. João

O alunos do mestrado tiveram a oportunidade de questionar a Dra. Aida Mata e o Dr. Mário Brito, actual coordenador do mosteiro, bem como de ouvir intervenções a propósito do director do curso, o Prof. Doutor Albertino Gonçalves, e do presidente do Instituto de Ciências Sociais, o Prof. Doutor Miguel Bandeira. Entre outros assuntos, deu-se destaque à necessidade de uma comunicação externa eficiente e directa, alicerçada por uma imagem interna concomitante com o esforço promocional, e às questões relacionadas com o hibridismo e dinamismo cultural que deve  perpassar uma programação que se reclame potenciadora de estímulos e, necessariamente, atenta à realidade.

Pormenor dos azulejos do Claustro do Cemitério

Claustro do Cemitério

Visitar o Mosteiro de Tibães acompanhado pela Dra. Aida Mata é viajar no tempo e absorver toda a história que suporta cada metro quadrado recuperado com o carinho e a dedicação de quem tem vindo, ao longo dos anos, a apaixonar-se por este espaço, tão perto de nós e, ao mesmo tempo, tão desconhecido de muitos.

Mais informações em http://www.mosteirodetibaes.org

Texto e fotografias de Paulo Pinto.