Tag Archive | visita de estudo

Visita ao Theatro Circo, um duo de sensações.

A tarde era chuvosa e duvidosa, pois ao mesmo tempo que chovia, parava e depois retornava a molhar. Chegamos meio molhados, mas à medida que o teatro ia se mostrando, íamos secando e surgia uma incrível vontade de mergulhar no mundo da casa de espetáculo que estávamos a desvendar. Nessa tarde misturamos física com intuição.

Adriano Ferreira Borges

Na entrada da sala principal, nos deparámos com a imagem clássica das máscaras teatrais, simbolizando a comédia e a tragédia. Segundo o professor de teatro Patrice Pavis “a máscara deforma propositadamente a fisionomia humana, desenha uma caricatura e refunde totalmente o semblante.” Foi com essa transformação sugerida pelas máscaras que simbolicamente nos modificámos ao passar nesse portal, rumo ao palco e outras entranhas desse mundo mágico, que mistura a comédia e a tragédia com todas as nuances da vida.

Adriano Ferreira Borges

Essa duplicidade nos acompanhou durante a tarde. Começando pelo próprio nome do espaço. O suntuoso Theatro Circo tem esse nome porque na sua fundação foi decidido que abrigaria espetáculos de teatro e de circo. Assim aconteceu durante anos. Até mastros enormes eram colocados no centro da sala para prenderem as estruturas circenses. Animais entravam por passagem especial com o nome de “porta dos cavalos”. A versatilidade da sala está presente até hoje, não com colocação de mastros dos circos, mas com apresentações variadas de diversas linguagens e estilos artísticos.

Com o diretor técnico Celso Ribeiro e o funcionário Ricardo Rosário, passámos pelo salão nobre, camarins, bastidores e aprendemos sobre física: “O contrapeso tem que ter o peso duplicado do cenário em questão. Desta maneira, um único maquinista consegue levantar rapidamente uma tonelada”. A física, nesse caso, pode contribuir com o discurso do artista em sua obra de arte e, para além disso, pode criar condições para que o artista utilize de sua intuição dentro da obra. O filósofo tcheco Vilém Flusser (1) escreve que em grego “tekné” significa tanto arte como técnica.

Diante de muitas informações e curiosidades ficamos a saber que existia um convento onde hoje é o Theatro Circo. Por essa razão, brinca-se com as possíveis aparições das freiras no edifício. Outra curiosidade é que existia, até a década de setenta, um café chamado Bristol, no saguão anexo ao teatro, que por motivos financeiros foi vendido para uma instituição bancária, que funciona até hoje ao lado do teatro.

Ao final, tivemos uma agradável conversa com o diretor artístico Paulo Brandão e a responsável pela comunicação Luciana Queirós da Silva. Falou-se das estratégias da comunicação e dos públicos a serem alcançados e principalmente da construção da programação. O diretor artístico utiliza-se muito da sua intuição para construir a programação e mostra-se sensível e atento a novas tendências mundiais. O pragmatismo necessário à comunicação tem diálogo estreito com a intuição na criação da programação.

A conversa aconteceu nas confortáveis poltronas vermelhas da centenária sala principal. O encantamento do mergulho inicial repetiu-se ao fechar as cortinas. Saímos com a certeza de que, entre física e intuição, é preciso muita verdade para se construir sonhos.

Entre secos e molhados… entre comédias e tragédias encantaram-se todos.

  1. B. Vilém Flusser(Praga, 1920 — Praga, 1991) foi um filósofo tcheco, naturalizado brasileiro. Autodidata, durante a Segunda Guerra, fugindo do nazismo, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde atuou por cerca de 20 anos como professor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor.

 

A visita ao Theatro Circo, Braga,  realizou-se no dia 28 de Março de 2018

Texto de Fabiano Assis e fotografias de Adriano Ferreira Borges.

Um comboio de aprender

Estação de Comboio de Braga, 8h20 da manhã, dia 15 de janeiro de 2018. Uma garoa fina trazia os meus amigos da Universidade do Minho, que foram chegando, pingando, aos poucos. Logo já havia um círculo, com risadas, barulho e brincadeiras. Não fosse pela idade, poderíamos dizer que eram miúdos, indo a alguma excursão, para alguma atividade fora da escola. O Motivo? Uma visita para conhecer, mais ao Norte, a cidade de Viana do Castelo, uma iniciativa e realização do nosso amigo de sala, Adriano Ferreira Borges.

O objectivo inicial do passeio era conhecer a Escola de Hotelaria e Turismo (http://escolas.turismodeportugal.pt/) e em seguida visitar as instalações da Associação Cultural Ao Norte (www.ao-norte.com). E foi gratificante perceber que tivemos bem mais que isso, mesmo sem apelar para a ementa requintada do almoço, que veio até com flor comestível.

 

 

O34A8111

Chegada a Viana do Castelo

De volta ao prato principal, aprender é ver, sentir, tocar, conversar, ouvir… e esse foi o roteiro verdadeiro. Começou quando fui olhar no mapa par ver onde ficava Viana do Castelo, depois conhecer sua tradição marítima, o Forte de Santiago da Barra, o antigo Navio-Hospital Gil Eanes, entre outros. Tão gostoso quanto as bolas de Berlim da famosa Confeitaria do Natário, entre mesas antigas e fotos de Jorge Amado, que tempos atrás andou por ali.

O34A8156

Na Confeitaria Manuel Natário (onde o agente de turismo e docente da Escola de Hotelaria e Turismo e também do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Dr. Nuno Barbosa, trocou connosco algumas palavras)

Também fomos muito bem recebidos na Escola de Hotelaria e Turismo, a começar pelo sítio histórico e as instalações, dentro do Castelo de Santiago da Barra. Em seguida tivemos uma palestra com Dr. Miguel Vaz Pinto, que destacou a importância da escola para a região e para o crescente cenário português, nos segmentos de gastronomia e hotelaria (o mais rentável deles). Ele ainda nos contou como lida com o ensino e seus alunos, perspectivas de trabalho, assim como o futuro desse setor tão importante. Da escola sairão muitos chefs famosos e alunos prontos para o trabalho em restauração, pastelaria e hotéis.

O34A8131

Nós com o Dr. Miguel Vaz Pinto na sala de “show cooking” da Escola de Hotelaria e Turismo de Viana do Castelo.

Nossa fome de conhecimentos foi saciada na sequência, em um belo restaurante da escola, com pessoas acolhedoras e atendimento impecável. A ementa provou que os alunos estão no caminho certo, pois apresentaram refinados ingredientes, além de azeite, vinho tinto e branco, água, entradas, prato principal, sobremesa e café.

Em seguida andamos perto da praia, vendo barcos, a vila de pescadores, passando pela Biblioteca Municipal, a Praça da Liberdade, avistando a ponte Eiffel, com seus 645 metros criada em 1877 pelo famoso Gustave Eiffel (1832 – 1923).

 

Após o almoço visitamos a Associação Cultural Aonorte e fomos recebidos pelo Dr. Rui Ramos.  Foi incrível descobrir tantas iniciativas e tanta programação em um espaço modesto, sem fins lucrativos e com poucos funcionários. Ou seja, a arte está nas ruas, nas salas de cinema, em cursos, escolas, vídeos, palestras, encontros, eventos, ideias e iniciativas. Tanto que a associação se prepara para o seu XVIII encontro de cinema, de 02 a 07 de maio de 2018. O encontro reflete o trabalho que tem sido feito, na promoção de debates entre cinema, literatura, fotografia, exibição de filmes, documentários, premiações e diálogos sobre o olhar e sua relação com o mundo. Dr. Rui explicou o contato da associação com escolas, educadores, alunos e todos os desdobramentos que realizam com as imagens.

 

No fim da tarde andamos um pouco mais, entre igrejas como a Catedral da Sé, passamos por lojas e cafés e pegamos o nosso comboio de volta para Braga, onde tudo começou. Daí percebi, pela empolgação dos meus amigos, que poderíamos mesmo ser confundidos com miúdos, na grande aventura de aprender e descobrir coisas novas! Obrigado Adriano, ao Dr. Miguel e ao Dr. Rui. Obrigado amigos de sala companheiros de jornada, da cultura, comunicação e das artes!

Texto: Marcelo Balbino

Fotografias: Adriano Ferreira Borges

Mestrado de Comunicação, Arte e Cultura 2017/19