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Mário Rocha não é apenas um artista. É um mestre da arte. É um humanista. Pintor, ceramista talentoso, escultor,…

Mário Rocha

Mário Rocha

Mário nasceu em Perre (Viana do castelo) em 1954. Dedica-se à pintura desde 1968 e inaugurou a sua primeira exposição aos 17 anos de idade. Além de já ter percorrido o nosso país de Norte a Sul, também expôs na Alemanha, Luxemburgo, Espanha, França e Bélgica.

Exposição colectiva Plural Out Project -  Mário Rocha - Cerâmica - Fórum Cultural de Cerveira

“Lutemos contra a fome” – Cerâmica – Exposição promovida pela Fundação Bienal de Cerveira, 2013

Pormenor

Pormenor de “Lutemos contra a Fome”, 2013

Em Arga de Baixo, no concelho de Caminha, todos os anos, nos meses de Julho e Agosto, a aldeia, mais concretamente a Casa do Marco, transforma-se numa galeria de arte contemporânea com características inéditas, que a tornam única. Artes como a pintura, escultura, cerâmica, desenho, design, joalharia, tecelagem e fotografia marcam presença, que fazem deste projecto, que já conta com 14 edições (aproximando-se já a 15ª!), uma referência nacional que ultrapassa fronteiras. Num ambiente rural, conjugado com a criatividade dos artistas, a arte sobe à Serra, deixando o cheiro das típicas galerias de arte na cidade. São cerca de 100 obras de arte, de artistas nacionais e internacionais.

À conversa, Mário Rocha falou-nos sobre este seu projecto – “Arte na Leira”:

 

Aqui fica ainda uma entrevista de Mário ao Porto Canal, aquando da edição de 2011:

 

Na exposição de pintura “Vidas Negras”, realizada na Oficina Cultural do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, entre Abril e Maio de 2011, um tema inspirou as telas expostas – os Sem-abrigo. Questionado por mim sobre o que o levou a idealizar essa exposição, Mário respondeu:

“Na altura, na política, falava-se muito e acertava-se pouco. Cada vez havia mais sem-abrigo e nessa altura vi coisas que me chocaram. Então, pensei que estava na hora de fazer uma reflexão sobre o assunto. Sem-abrigo há em todo o lado, e também o pobre com muitas dificuldades, a pobreza envergonhada, … há muito por aí, pessoas que até têm tecto, mas não têm mais nada. Acho que pelo menos, as pessoas que visitaram a exposição ficaram a pensar e esse também é o meu objectivo.”

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Telas da série “Vidas Negras”, 2011

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A este respeito, deixo-vos um vídeo de uma outra arte, a música, que Pedro Abrunhosa compôs sobre a mesma temática – “Quem me leva os meus fantasmas”.

 

Pesquisando sobre a sua obra e o que escrevem sobre Mário Rocha, constatei que as pessoas falam do Mário com um enorme carinho e admiração, tanto pelo artista, como pelo homem e cidadão. Uma vez finalizada e divulgada, a obra deixa de pertencer inteiramente ao artista que a criou para passar a fazer parte da realidade social, sendo neste contexto que irá ter repercussões, onde irá ser interpretada e gerar sentimentos e ideias, de modo imediato e directo ou apenas de forma subliminar e subtil. O autor Arnold Hauser (1) vai mais longe e chega mesmo a afirmar que “assim como o homem se torna homem, porque preenche os requisitos sociais, também o artista se torna artista, quando estabelece contactos interpessoais”.

Assim, não podia deixar de perguntar-lhe se o artista e a arte estão intimamente ligados à sociedade. Ao que Mário me respondeu:

“Estão sempre ligados, a sociedade evolui, o artista tem que acompanhar essa evolução, pelo que nos traz de novo e que até faz parte do nosso trabalho, pois a evolução da sociedade traz outras linguagens e outras formas de trabalhar. Há sempre uma ligação. Há um artista ou outro que se deixam ultrapassar pela evolução da sociedade, mas tem que se ser parceiro.”

Ainda neste domínio, Álvaro Cunhal afirmou, no seu livro “A arte, o artista e a sociedade” (2), que “um apelo à arte que intervém na vida social é intrinsecamente um apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho”, afirmação que Mário concorda plenamente, dizendo que “a arte é sempre um rasgo de liberdade, Cunhal até preso conseguiu compor”. Adorno (3) afirma que “as lutas sociais, as relações de classe imprimem-se na estrutura das obras de arte”. O autor (3) reforça a ideia, na sua teoria estética, de que o sujeito artístico “em si é social, não é privado.”

Falemos de um outro projecto. “A vida de um vinho” é um projecto social. Uma parceria da Casa Ermelinda Freitas com o artista Mário Rocha e com o maestro Jorge Salgueiro. Foram engarrafadas 1500 garrafas Magnum numeradas, com um custo de 100€, acompanhadas com um CD do já referido maestro ou 175 € quando adquiridas com o CD e uma serigrafia especial de Mário Rocha. A totalidade da receita reverte para a Cáritas e para a União Social Crescente da Marateca, que é utilizada em projectos de apoio a idosos e a crianças carenciadas. Mais uma vez, Mário Rocha revela o seu lado humano e a sua forte ligação a projectos sociais.

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Rótulo da garrafa “A vida de um vinho”

 

Passemos para o lado internacional de Mário com a exposição “Aires da Serra…”, que esteve patente no Pazo de Cultura de Pontevedra (Espanha), de 13 de Janeiro a 12 de Fevereiro de 2012, evidenciando o seu fascínio pelo mundo rural.

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Telas da série “Aires da Serra…”, 2012

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Sobre esta exposição e sobre o artista, o presidente da Fundación Camiño Portugués a Santiago, Ceslestino Lores Rosal disse ao Diário de Pontevedra:

“Si me pides que te describa a Mário Rocha en pocas palabras, solo puedo decirte que es uno de los artistas más completos que nunca he conocido. No solo es un genio ante el lienzo, sino que es escultor, ceramista y un gran propulsor del arte en todos los sentidos, pues dedica gran parte de su tiempo a organizar importantes eventos culturales”.

 Mário Rocha é, de facto, um génio criativo, um artista multifacetado. Sobre a mesma exposição, o crítico espanhol Ramon Rozas teceu as seguintes palavras:

“Temos, polo tanto, a oportunidade de ampliar aquel coñecemento breve, aquel contacto que agora se establece como unha forte relación coa pintura deste home e da súa terra, desas serras que o rodean e nas que se atopa a única verdade que nunca nos vai defraudar, na que sempre nos imos a sentir  reconfortados. Un berce no que recuperar as nosas vidas agora secuestradas por uns tempos que non son os mellores, pero que son os nosos. Que a arte nos sirva de alivio”.

Vou agora lançar um olhar atento sobre as telas de Mário, como admirador da sua obra.

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Telas da série “Vidas Negras”

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As cores utilizadas nas telas de Mário Rocha são as cores terras, tal como os ocres, os castanhos. Quando Mário usa cores mais vivas, como os vermelhos e laranjas, os apontamentos com essas cores são muito focalizados. Há uma forte expressividade ligada às cores mais terras. Podemos entender o uso destas cores como um elo de ligação à própria terra, como se o Outono campestre predominasse nas suas obras. Olhando para as telas de “Vidas Negras”, independentemente de encontrarmos formas figurativas, os quadros dão-nos a sensação de serem tapeçarias, como se tivessem sido bordados pelo artista. É um lado mais expressivo controlado, num encontro com a tapeçaria.

O domínio da mancha gráfica está bastante presente nas obras de Mário, chegando a ser uma espécie de abecedário do seu trabalho. Quase que o artista pinta com mancha, sendo as telas bordadas com manchas de cor. É como se o Mário dissesse: “a mancha aconteceu…eu assumo a mancha”.

Mário Rocha pinta para chegar a um fim. Nele habita uma explosão de sentimentos, e a partir desse contacto com a mancha de cor vai encontrando narrativas.

Olhando para estas telas, vemos algumas imagens desfocadas, aliadas à impressão de sentido figurativo. Como se o vento passasse e deixasse a sua marca. Há igualmente um confronto entre as formas orgânicas e algumas formas geométricas. Há ritmos que o artista estabelece que não deixam de ser mais geométricos e racionais. No fundo, há uma espécie de confronto, em que temos a sensação do ritmo de cores de forma expressiva e, ao mesmo tempo, depois de Mário conseguir aplicar na tela esse grupo de cores, depois de conseguir preencher o suporte com cor, há uma preocupação na construção do detalhe. Mário Rocha não é apenas expressivo, ao mesmo tempo que o é, chega a ser detalhado. É um mar de pormenores, de estilos, numa relação entre eles, demonstrando uma narrativa no final.

Voltando à mancha na obra de Mário, o facto de a trabalhar é o culminar de um interesse pela matéria. É a relação do Mário pelo campo, pela aldeia, a matéria que é a mancha e é a tinta.

Há um lado de sentimentos, de sentidos imprimidos na sua obra, quase como um sonho. Ficamos com a ideia que é o tempo que vai definir o detalhe, num jogo da mancha opaca com a mancha transparente.

Embora Mário Rocha seja um artista que pinta pelas emoções, dizendo que não se enquadra em nenhum estilo, em nenhuma escola, nos quadros de Mário podemos encontrar semelhanças com movimentos impressionistas e neorrealistas. Características impressionistas ligadas a este lado mais pessoal (da matéria) e ao mesmo tempo a ligação forte à Natureza, o campo, a luz, a particularidade da matéria. Neorrealistas porque, independentemente de apresentar formas e semelhanças, há um lado ligado à identidade do artista, ao campo, ao que acontece na aldeia.

Existe quase que uma visão distorcida da realidade, mas não deixa de ser uma visão realista. Falo de uma visão distorcida no que respeita apenas à aparência técnica, no sentido da técnica. No momento em que começamos a ler atentamente o seu trabalho, percebemos que Mário imprime nas suas obras a sua visão realista sobre a vida, particularmente a atmosfera da natureza campestre.

Como projecto futuro, Mário está a trabalhar numa homenagem aos pescadores de Vila Praia de Âncora que morreram no mar desde 1960. A comunidade local e o artista quiseram homenageá-los continuamente com uma escultura.

Todo o trabalho de Mário Rocha é bastante poético, é como se as suas obras cantassem, como se estivéssemos a atribuir som às suas obras. Uma espécie de som do silêncio. É este lado introspectivo de apreciar a Natureza, que faz de Mário um nome maior da pintura contemporânea portuguesa.

Como não tenho palavras para agradecer o facto de me ter aberto as portas de sua casa, mostrando-me assim o seu mundo de forma tão humana, reproduzo as palavras que Pedro Abrunhosa escreveu sobre a sua obra:

Pedro Abrunhosa

Deixo-vos o convite a visitar a “Arte na Leira”, de 20 de Julho (inauguração às 18h) a 18 de Agosto. Todos os dias de manhã até às 23h.

Muito obrigado pela tua obra Mário.

Arnaldo André Silva Santos Fidalgo Martins | pg23018 | mestrado em Comunicação, Arte e Cultura | Maia, 22 de Junho de 2013

Bibliografia:

(1) Hauser, Arnold, A arte e a sociedade, Lisboa, Editorial presença, 1984

(2) Cunhal, Álvaro, A arte, o artista e a sociedade, Lisboa, Caminho, 1996.

(3) Adorno, Theodor W., Teoria estética, Lisboa, Edições 70, 2008.

AGOSTINHO SANTOS – SONHOS DA REALIDADE por César Nóbrega

Agostinho Santos e a sua obra

Agostinho Santos e a sua obra

“Quando começo um desenho ou uma pintura, não sei onde acaba um e começa o outro. As fronteiras acabam por desaparecer ( …) o que interessa é que seja a expressão do meu pensamento (…) o grande fascínio da arte é proporcionar a liberdade ao artista. Não pinto com preconceitos (…) o que me interessa é a ideia, ser capaz de interpretar a ideia que tenho (…) nunca quis abdicar da liberdade, não vai ser agora.”

Agostinho Santos, in “Territórios da Inquietação ou a Liberdade do Gesto”, filme-documentário de David Marreiros, Hugo Flores, Pedro Reis e Raquel Koch, parceria FBAUP/Fantasporto

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Mulheres com olhares enigmáticos e cinco mamas, diabos azuis a beijar a seta que trespassou Jesus, gatos que parecem homens e homens que parecem gatos, figuras feias, tristes e máscaras de Carnaval, tinta a escorrer como se de sangue se tratasse. Pode parecer cliché, mas não é, a obra de Agostinho Santos não deixa ninguém indiferente. Ou se gosta… ou se não quer ver, porque mostra um sonho distorcido que retrata a realidade. É dificil saber o que vai na cabeça do artista quando nos pinta cheios de cores (ou a preto e branco) e de defeitos. Mas quem dera que fossemos assim tão disformes!

Sem grandes dificuldades, o escritor Nobel da Literatura, José Saramago, define a arte de Agostinho Santos, no prólogo do livro “José Saramago segundo Agostinho Santos”: “Há algo de frondoso e vegetal na arte de Agostinho Santos, algo também de primitivo e fetal, formas que se vão preparando para nascer ou que no nascimento parecem haver renunciado, um mundo em suspensão, à beira de uma definição, como aguardando a palavra ordenadora, sem cessar anunciada, e constantemente adiada”.

Livro "José Saramago segundo Agostinho Santos"

Livro “José Saramago segundo Agostinho Santos”

O, também, jornalista profissional do Jornal de Notícias não faz arte de ânimo leve. Para ele, “a arte não tem que ser só decorativa”. O artista nascido em Gaia, em 1960, confessa que o “que tenta fazer é, sobretudo, uma mensagem”.

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No filme-documentário “Territórios da Inquietação ou a Liberdade do Gesto” , Agostinho Santos diz que “é fundamental existir uma força interior (…) o meu trabalho vive da inquietação (…) vive da desigualdade, da violência que existe e que toda gente vê nas televisões. A  guerra, a fome,  injustiças sociais”. A missão do artista parece definida, até porque ele “não pode ficar indiferente a isto tudo, tem que denunciar, alertar, interrrogar inquietar as pessoas”. Agostinho Santos quer que as pessoas vejam um trabalho seu “e que se incomodem,  não que fiquem horrorizadas, mas que as ajude a despertar para as causas (…) a arte não pode ser cúmplice com a situação em que vivemos, tem que ser alertante, viva, agitada (…) Chego ao meu atelier e tento reproduzir o que me vai na alma, e que no fundo é um espelho da sociedade em que vivemos.”

Agostinho Santos demarca-se de correntes artísticas porque diz interessar-lhe fundamentalmente a criatividade, contudo, em entrevista realizada por email diz que o seu estilo “se enquadra no Expressionismo, coloca-se entre o Expressionismo figurativo e o Expressionismo abstracto”. Não é dificil perceber porquê! O professor britânico especialista em arte, Guy Hubbard, explica: “uma série de movimentos artísticos, que começaram no início do século XX. Apareceram porque os artistas rejeitaram as ideias fixas da arte clássica (herança da Grécia e Roma), que já não pareciam encaixar no tipo de mundo que se vivia. As raízes do Expressionismo pertencem à outra grande tradição artística, o Romantismo, com sua ênfase nas emoções fortes. Os artistas expressionistas não tentavam reproduzir o que eles podiam ver, mas sim fazer os seus sentimentos visíveis.”  Este é o principal objectivo de Agostinho Santos e da sua arte: “que o meu pensamento seja simultanamente transmitido no segundo imediato ao pensamento  (…) retratado no suporte, numa tela, numa janela (…) que conseguisse de facto transmitir o que me aborrece, o que me faz pensar. Eu quero pensar e desenhar. É importante dar-mos a conhecer aos outros o que estamos a pensar, mas estou convencido que ainda não é para já, porque há sempre segundos de diferença,  contudo vou continuar a trabalhar“.

Para o crítico de arte Paul Fletcher, o Expressionismo trata da “experiência emocional na sua formulação mais intensa e concentrada” . O espírito do movimento nasce de duas personalidades – o holandês Vincent Van Gogh e o norueguês Edvard Munch. Na altura, as belezas naturais de paisagens dominavam o espírito dos pintores – eram os Impressionistas. Van Gogh e Munch cortaram radicalmente as ligações e olharam a realidade por uma outra perspectiva. Escolheram olhar a alma e deram uma visão pessoal ao mundo. Pinturas como “Os Girassóis” (1888) de Vincent Van Gogh ajudam-nos a ver a cor de outra maneira. Como o próprio pintor explica em carta para o irmão Theo: “em vez de tentar reproduzir exactamente o que vêm os meus olhos, uso a cor de uma forma arbitrária para me exprimir”.

VINCENT VAN GOGH (1853-1890) “Os Girassóis”, 1888

VINCENT VAN GOGH (1853-1890)
“Os Girassóis”, 1888

E, depois, há “O Grito” de Edvard Munch (1893). Formas distorcidas e cores exageradas amplificam o sentimento de ansiedade e alienação. A 22 de janeiro de 1892 Munch explicou em Nice o que pintaria: “Caminhava na rua com dois amigos. O pôr do sol. Senti uma pontinha de melancolia. De repente, o céu ficou vermelho sangue. Parei, debrucei-me sobre o parapeito, morto de cansaço. Olhei para as nuvens flamejantes que pendiam como sangue e uma espada sobre o fiorde preto azulado e a cidade. Os meus amigos seguiram em frente. Eu fiquei lá, a tremer de medo: Senti um enorme, interminável grito lancinante da natureza”.

EDVARD MUNCH (1863-1944) “O Grito”, 1893

EDVARD MUNCH (1863-1944)
“O Grito”, 1893

O movimento veio a nascer na Alemanha e espalhou-se da pintura para todos os outros campos artísticos. Da arquitectura, à literatura, passando pela música, cinema, teatro, dança e fotografia.

Carl Zigrosser, contemporâneo do movimento e curador do Museu de Filadélfia durante vários anos, acrescenta que a nota principal do Expressionismo “é a exploração da vida interior do homem. É claro que esta exploração foi um fenómeno do século XX, que seguiu em muitas direcções, nomeadamente a descoberta da psicanálise e do subsconciente”.

Existiram dois grupos distintos de artistas. O “Die Brucke” (“A Ponte”) e “Der Blaue Reiter” (“O Cavaleiro Azul”). “A Ponte” foi formado em 1905 pelos arquitectos alemães Ernst Luwig Kirchner, Erich Heckel, Karl Schimidt-Rottliff e Fritz Bleyl.  Não tinham teorias, nem intenções estilísticas, queriam apenas inovar de forma irreverente. Em 1912 surgiu “O Cavaleiro Azul” por Wassily Kandinsky e Franz Marc. Este era mais um encontro de artistas que um grupo, que se sentia atraído pelos aspectos misticos do estilo, particularmente na sua relação com o sobrenatural.

WASSILY KANDINSKY (1866-1944) “Composition IV”, 1911

WASSILY KANDINSKY (1866-1944)
“Composition IV”, 1911

Wassily Kandinsky aproxima-se do Expressionismo abstracto. A sua pintura afasta-se das formas realistas e aproxima-se da abstracção. A obra de Agostinho Santos movimenta-se entre estes mundos mas há outras inspirações: “as minhas referências de pintura são o Picasso, o Basquiat, entre outros, sem ter a obsessão de ser como eles vou beber a grande nomes da história da arte, tento evoluir, que o meu caminho não fique estagnado, tento construir novas linguagens”.

A inspiração não é, contudo, um caminho linear para o pintor: “não sou daqueles que acredita muito na inspiração, acredito sim, na disciplina. No meu caso particular, julgo que não se pode chamar inspiração, mas sim preocupação e envolvimento. O  trabalho que venho desenvolvendo em matéria de artes plásticas relaciona-se com o quotidiano, com o mundo real, que às vezes, infelizmente se assemelha muito com um mundo irreal. Ao longo de quase trinta anos de actividade tenho centrado o meu trabalho especificamente em três grandes temas: a mulher, a literatura e a intervenção social. Todos estes temas têm sido interpretados através da pintura, do desenho, da escultura e da instalação (…) O meu acto de pintar, o meu acto de criar envolve necessariamente uma grande liberdade do gesto e grande espontaneidade. Procuro interpretar, registando uma nova forma de captar as ‘coisas’”.

As mulheres são, de facto, um tema importante na obra de Agostinho Santos “e que já ocupou (e continua a ocupar) muitas das minhas exposições individuais ou colectivas. Mas, em boa verdade, a mulher em si, desperta-me artisticamente, sobretudo, a sua beleza interior e este é, alias, um desafio que enfrento constantemente, que é captar a interioridade, a intimidade do modelo, neste caso, da mulher.”

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A literatura é, igualmente, de referir. “Escritores como o José Saramago e Fernando Pessoa foram sempre homens que me obrigaram a reflectir (…) os textos do Saramago têm o dom de me dar asas e abrir outros caminhos (…) o que eu tento fazer é uma interpretação das obras”. O escritor, José Saramago, disse de Agostinho Santos e, entre outras coisas, já referidas: “Em geral, pinta-se com cores e com linhas (…) Há, porém, pintores que desenham com os pincéis. Presumo que já não estão interessados em distinguir entre a arte do desenho e a arte da pintura. Confiam na firmeza do pulso e na vontade que move a pincelada (…) São gladiadores, os seus pincéis, são lança e espada (…) Agostinho Santos será talvez o artista que melhor encarna esta relação pouco comum com a operação de pintar.” O pintor confirma que tem muitas armas no seu atelier: “pinceis, lápis, barro, tintas, telas, papéis, arames, tudo. Considero que um criador, um artista tem o dever e a obrigação de não fechar os olhos ao que o rodeia, sobretudo das injustiças, das desigualdades, da fome, da guerra e de todos esses dramas que afectam a nossa sociedade. O artista não pode nem deve alherar-se da sua função denunciante, de pelo menos, poder alertar e denunciar o que está mal. Nesse sentido o pincel, como outro tipo de utensílios artísticos, poderão ser considerados como um arma, uma espingarda, uma metralhadora ou, simplesmente, uma pomba, uma flor (…) A arte como intervençao social é, ou pode ser, um meio de atingir alguns fins, nomedamente de alertar e denunciar o que está mal. E nesse sentido a arte é um dispositivo que pretende pôr fim a esses dramas que afectam o nosso Mundo”. A consciência social é notória em todos os trabalhos de Agostinho Santos. Talvez por ser jornalista está mais alerta para o que se passa à sua volta. Talvez porque seja apenas atento. Tudo o que faz reflecte o que tem dentro de si, sobretudo, uma dor pelas injustiças sociais que presencia todos os dias.

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Agostinho Santos tem numerosos prémios, tanto na área das artes – Concurso Europeu de Cartoon de Lisboa (2007), Exposição Nacional de Arte Erótica de Gondomar (2003), I Bienal da Máscara de Bragança (2004), Bienal de Cerveira (2001), entre outros – como do jornalismo, nomeadamente o Prémio Nacional de Reportagem do Clube de Jornalistas (1990).

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Ao longo de 30 anos de trabalho teve obras em inúmeros locais, em museus (Museu de Serralves, Casa-Museu Teixeira Lopes , Museu de Imprensa, Futebol Clube do Porto, sao alguns deles), galerias, instituições, autarquias e muitas colecções particulares. E também, claro está, no seu atelier. “É, alias, no meu atelier que estão alguns dos meus mais significativos trabalhos, confesso que tenho alguma dificuldade em separar-me de alguns deles e por isso, integram a minha colecção particular.”

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Até  ao momento, Agostinho Santos realizou cerca de 70 mostras individuais, incluindo desenho, pintura, escultura, instalação, livros de artista e ilustração. Expôs em inúmeras cidades portuguesas e também em Espanha, Brasil e Índia. Participou em centenas de mostras coletivas em Portugal e vários paises do mundo.

Agostinho Santos

Agostinho Santos

Agostinho Santos tem o Mestrado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto. A tese chama-se: “Palavra/Imagem, desenvolvimentos pictóricos a partir das palavras de José Saramago”.  Entretanto, está a concluir o Doutoramento em Museologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A tese chama-se “Paleta Contemporânea“.

Se precisarem de mais Agostinho Santos peçam-lhe amizade no Facebook, porque, acima de tudo, ele é amigo da arte… e amigo de meu amigo… meu amigo é!

https://www.facebook.com/agostinho.santos.735

Bibliografia

Hubbard, Guy, artigo da revista  Arts & Activities, Vol. 130, No. 3

Yarborough, Y., Public Confrontation and Shifting Allegiances: Edvard Munch and the Art of Exhibition. In: McShine K (ed). Edvard Munch: The Modern Life of the Soul. New York: Museum of Modern Art, 2006: 65.

Zigrosser, Carl, “The Expressionists: A Survey of Their Graphic Art”

Outras fontes

Entrevista realizada por email a Agostinho Santos no dia 18 de Junho de 2013

Filme “Agostinho Santos – Territórios da Inquietação ou a Liberdade do Gesto”, filme-documentário sobre a obra do artista Agostinho Santos, um filme de David Marreiros, Hugo Flores, Pedro Reis e Raquel Koch, parceria FBAUP/Fantasporto

http://www.artyfactory.com/art_appreciation/art_movements/expressionism.htm

Trabalho sobre Agostinho Santos para “Sociologia e Semiótica da Cultura”, da autoria de Belarmino César Nóbrega Amaral Pereira (pg23478) Universidade do Minho, mestrado em “Comunicação, Arte e Cultura”

Monet em movimento…

Fantástica, a combinação entre a arte e a tecnologia…

http://www.monet2010.com/es#/voyage/

Graças ou Cárites

Na mitologia grega, Graças ou Cárites são as deusas do encantamento, da beleza, da natureza, da criatividade humana e da fertilidade da dança. Eram filhas de Zeus e Hera, segundo umas versões, e de Zeus e da deusa Eurínome, segundo outras. Pela sua condição de deusas da beleza, eram associadas a Afrodite, deusa do amor (ou a Vênus, na mitologia romana) e dançarinas do Olimpo. Também se identificavam com as primitivas musas, em virtude da sua predileção pelas danças corais e pela música.

O nome de cada uma delas varia nas diferentes lendas. Na Ilíada de Homero aparece uma só Cárite, esposa do deus Hefesto. Apesar das variações regionais, o trio mais frequente é:

  • Aglaia – a claridade;
  • Tália – a que faz brotar flores;
  • Eufrosina – o sentido da alegria.

Graças (ou Cárites) eram jovens e muito bonitas, mas principalmente modestas. Estavam sempre a dançar e é precisamente a atitude de dar as mãos e começar a dançar como a arte que mais as tem  representado.

Embora pouco relevantes na mitologia greco-romana, a partir do Renascimento, as Graças tornaram-se símbolo da idílica harmonia do mundo clássico. Nas primeiras representações plásticas, elas apareciam vestidas. Mais tarde, contudo, foram representadas como jovens desnudadas, de mãos dadas.

Este tema mitológico tem sido retratado inúmeras vezes e desde muito cedo na história da arte. De mosaicos e relevos gregos e romanos, passando por Bottichelli, Lucas Cranach, Correggio, Rubens, Rafael e muitos outros artistas.

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De Mondrian a Rietveld

Desde sempre a arte reinventa-se, inspira-se, transforma-se e materializa-se em algo, às vezes semelhante à obra de referência e outra vezes tão diferente que a referência parece mero acaso.
Aqui pretende-se expor a influência que a pintura de Mondrian teve na arquitectura de Rietveld.

Piet Mondrian, pintor holandês (1872-1944) começou a sua actividade artística representando pessoas e paisagens, mas, no início do século XX, o suave colorido naturalista das suas obras anteriores é substituído por uma paleta de cores puras, cores primárias aplicadas de forma arbitrária, pelas quais é reconhecido actualmente.
Durante a segunda metade da década de 20 do século XX, vários movimentos propõem uma arte não figurativa, regida por normas próprias e não espartilhada nos objectos de natureza física.
Mondrian, que chegou à abstracção por via do cubismo, recebe duas influências fundamentais na evolução da sua obra. Uma surge no âmbito pictórico por Bart Van der Leck, cujas estilizações à base de planos de cores primárias definirão o novo estilo de Mondrian. A outra procede do místico Schoenmakers (progressivamente Mondrian tinha-se afastado do calvinismo em que nascera e aproximara-se de crenças esotéricas, especialmente a teosofia) que, num dos seus ensaios escrevia: “Os dois extremos absolutos fundamentais que conformam o nosso planeta são: a linha de força horizontal, isto é, a trajectória da Terra ao redor do Sol, e o movimento vertical e profundamente espacial dos raios que tem a sua origem no centro do Sol (…). As três cores principais são o amarelo, o azul e o vermelho. Não existem mais cores do que estas.”
Estava, assim, definida a estética de Mondrian, que concebe a obra de arte como um veículo para exprimir a força e a harmonia do universo, por meio de recursos exclusivamente plásticos.

Quadro 1, 1921 (“A trama ganhou simplicidade e cada uma das três cores primárias aparece uma só vez, tudo isso para não velar o núcleo central da sua estética: a arte como criação de relações elementares-entre linha e plano entre cor e não-cor.”)

Em 1917, na Holanda, formou-se o grupo De Stijl, com a finalidade de criar um estilo válido para a “nova consciência da época”, que substituiria o “individual” pelo “universal”. Na pintura isso significou o repúdio de todas as referências representativas. A natureza era demasiado material e individual. Só a arte “universal” permitia a composição abstracta, como um “equilíbrio da posição e peso da cor”. Os quadros de Mondrian (o pintor mais importante do grupo) reduziram-se a linhas pretas em combinações rectangulares, juntamente com as cores primárias vermelho, azul e amarelo, suportadas por muito branco e um pouco de cinzento.
Neste período a arquitectura moderna aperfeiçoou-se num processo de reduções a proporções positivas, comparáveis à da pintura moderna.
Um dos poucos edifícios representativos destes princípios é a Casa Schröder (Património Mundial da Unesco), construída em Utrecht por Gerrit Rietveld (1888-1964), que se juntou ao movimento em 1918. A forma básica é cubóide mas é “decomposta” por projecções horizontais e bocados de paredes verticais, parapeitos e suportes. O ângulo recto, que Mondrian elevava ao nível de dogma, governa mesmo os detalhes: janelas que abrem para fora só podem segurar-se numa posição, exactamente num ângulo de 90 graus em relação à fachada. O esquema de cores é o de Mondrian: todos os elementos lineares são vermelhos, azuis ou amarelos, enquanto as superfícies são brancas ou cinzentas.

Casa Schröder, 1924 (fachada). A casa constitui uma aplicação a três dimensões dos princípios estabelecidos pelos neoplasticistas (De Stijl).

Casa Schröder, 1924 (interior). No andar superior da casa, libertados da carga estrutural, os tabiques podem ser móveis, permitindo diversas combinações com base numa única superfície.

Sendo praticamente contemporâneos, é quase impossível determinar onde começa a influência de um e termina a do outro, sendo que a arte se interpenetra, se reinventa e se reescreve sucessivamente.

Clara Margarida dos Reis Morais (PG20786)

Gössel, Peter; Leuthaüser, Gabriele; “Arquitectura no Século XX”, Editora Taschen, ISBN 3-8228-9004-9 P;
Khan, Hasan-Uddin; “Estilo Internacional – Arquitectura Moderna de 1925 a 1965”; Editora Taschen, 2001, ISBN 3-8228-1269-2;
Zabalbeascoa, Anatxu; “As Casas do Século”, Editorial Blau, 1998, ISBN 972-8311-20-6;
Vários, “Grandes Pintores do Século XX-Mondrian”, Editora Globus Comunicación, 1995, ISBN 84-8223-073-5.

Arte de Rua… Episódio 2

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Arte de rua… Integração / Desintegração?

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Tatuagens: arte no corpo

Desde os primórdios da civilização que a arte faz parte da vida do homem. A forma mais comum de preservar a arte, é através de quadros. Contudo há quem prefira ser a moldura, e expressar a arte no próprio corpo. A essa forma de expressão artística, chamam-se tatuagens.
As tatuagens, não são como se pensam, fruto da cultura funk ou pop rock. A tatuagem não é um produto cultural recente, ela está presente desde a origem da humanidade. O Homem, desde a sua origem que pinta símbolos da sua cultura na pele, seja por vaidade, estatuto ou religião.
Para David Le Breton em Sinais de identidade, se a tatuagem das sociedades tradicionais repete formas ancestrais gravadas numa filiação, as marcas contemporâneas têm um objectivo de individualização e de estética.
A historia remete a origem das tatuagens “definitivas” para o Antigo Egipto, nessa altura, tatuar consistia em inserir um pouco de tinta à base de vegetais logo abaixo da derme, através de uma haste de osso, especialmente afiada na ponta. Acredita-se ainda, que esta arte se tenha disseminado pelo resto do mundo através de rotas comerciais, uma vez que esta era a sociedade mais desenvolvida da época.
Para a sociedade egípcia, o tema das tatuagens era maioritariamente religioso. O maior exemplo disso, são as tatuagens da sacerdotisa Amunet, esta possuía vários traços e pontos gravados nas pernas, colo e braços, como símbolo de fertilidade e longevidade.
Para os Samoanos, tatuagem marcava a passagem da infância para a maioridade. Era a tatugem que atribuída, ao membro da tribo, voz numa roda de adultos e permissão para tomar uma esposa para si. Além disso, a tatuagem também funcionava como instrumento de ascensão social. Quanto mais tatuado fosse o Samoano, mais alto seria seu estatuto na tribo.
No Japão feudal, as tatuagens eram usadas como forma de punição. O japonês, desde sempre dependente da sua posição na sociedade, ser tatuado era pior do que a morte. A popularização da tatuagem veio com a era Tokugawa, época de intensa repressão, em que a tatuagem tornou sinónimo de resistência.
Na América, desde as tribos até às civilizações Maias e Astecas, praticava-se a tatuagem com tema religioso e mágico. Os Índios Sioux, acreditavam que após a morte, a alma era verificada e uma divindade exigia ver as suas tatuagens para que pudesse ter acesso ao paraíso.
A quando a altura das grandes navegações e descobrimentos, começaram a chegar notícias de povos que gravavam figuras na pele. Os espanhóis, desconheciam as tatuagens, o que fez com que qualificassem os Maias como “adoradores do diabo” por gravarem imagens dos seus Deuses na pele.
Este desconhecimento, deve-se ao facto de, apesar de os europeus terem desenvolvido a técnica das tatuagens com os celtas, a Igreja Católica em 787 D.C. ter proibido e ter declarado a tatuagem como objecto de prática pagã.
O primeiro contacto dos europeus com a tatuagem depois de séculos de proibição, foi em 1691, quando o príncipe das Filipinas, Giolo (imagem acima) foi feito escravo e trazido para Londres como uma atracção uma vez que este era tatuado da cabeça aos pés.
Mais tarde, no final do século XIX a Inglaterra tornou-se o país europeu com maior prática da técnica graças aos seus marinheiros, vários segmentos da sociedade inglesa tornaram-se adeptos da “tatoo” como passou a ser chamada.
Mas mesmo com a expansão da prática até á realeza (exemplo: rei Edward VII) , insistia-se em associar a tatuagem como uma propensão à criminalidade e marginalidade, havai ainda quem interpretasse a penetração da carne como uma tendência à homossexualidade.
E quanto aos tempos actuais?
No final da década de 60, no Reino Unido, a tatuagem continuava a ser privilégio de culturas marginais como a dos roqueiros de blusão de cabedal e dos mods (1).
Nova Iorque por sua vez, ganhou cor através de uma vaga de grafittis nos muros dos bairros mais pobres, nas paredes e nas carruagens do metro, com assinaturas estilizadas, nomes, algarismos e grafismos, feitos pelos taggers. Depois, da pele da cidade passar-se-ia à pele do corpo. O movimento hippie contribuiria para a renovação da tatuagem. Contudo, os roqueiros e mods desaparecem, uns no movimento dos hippies, outros viraram skinheads(2) . A reutilização da tatuagem na década de 70 dá-se na cultura punk.
A divergência destes anuncia-se principalmente em músicos. O termo punk(3) significa porco, lixo. Ao peace and love dos hippies respondem com hate and war.
Se a tatuagem e o piercing se associaram à dissidência nos anos 70 e 80, hoje são referências essenciais da juventude contemporânea, escreve ainda David Le Breton. O movimento punk dissolvera-se na vida quotidiana e entrara no circuito do consumo, com roupas e insígnias vendidas nas grandes lojas. Surgiam estilos mais light: new wave, gótico, grunge, techno. A tatuagem saía da clandestinidade e afastava-se da má imagem contudo sem se desfazer totalmente da sua má fama.
A verdade é que até hoje, a sociedade continua a discriminar todos aqueles que tatuam os seus corpos. Mas mesmo com toda essa descriminação, cada vez mais gente se dispõe a derramar um pouco de sangue e gravar arte na pela.
Para completar o meu trabalho, fotografei e conversei com várias pessoas que optaram por tatuar os seus corpos.
A primeira pessoa que fotografei foi a Rita, ela tem 23 anos e tem duas tatuagens. Pedi á Rita que me explicasse os seus significados enquanto a fotografava.


A primeira (trevo de 4 folhas) é uma tatuagem que o seu namorado também tem, exactamente no mesmo lugar do corpo e significa a sorte que tiveram em se encontrar. A segunda é também dedicada ao namorado, mas esta bem mais pessoal, trata-se de um beijo que o namorado deu no papel e que a Rita decidiu reproduzir no seu corpo, neste caso, na nádega direita.
A seguir temos as tatuagens e as histórias da Patrícia Barroso, a tatuagem a cores, com temas florais japoneses significa uma nova etapa na sua vida.
A das costas (3 borboletas) representa a família, o pai, a mãe e a própria. Que a Patrícia vê como uma espécie homenagem.

A última pessoa que partilhou comigo a sua experiência em forma de arte foi a Rita Capão. A sua tatuagem além de ser particularmente diferente, tem uma história diferente mas no fundo igual a todas as outras. A Rita fez a sua tatuagem em Junho de 2010. Em Janeiro do mesmo ano havia sido detectado um tumor no cérebro da sua mãe e os médicos não lhes davam esperanças nenhumas. Mas a verdade é que em 6 meses tudo acalmou, a Mãe da Rita ficou bem, e ela decidiu fazer esta tatuagem, como símbolo de esperança, optimismo e força.

Notas de rodapé:

1. Os mods são os fãs dos Beatles, usam cabelos compridos, vestem-se segundo a moda. Os roqueiros estão na corrente iniciada por Elvis Presley, usam blusões negros, recorrem às tatuagens, circulam em motas.
2.Com uma encenação própria: cabelos cortados rentes, jeans, botas Doc Martens. Neles, tatuagens e piercings são correntes.
3.O movimento punk é visto como uma dissidência corporal: cabelos penteados em crista de Moicanos com arestas triangulares mantidos com sprays, lacas, e pintados em cores vivas em verde, amarelo e cor-de-laranja. A roupa é usada e a roupa interior é vestida por cima das calças ou vestidas do avesso. Casacos de cabedal cravejados e coleiras de cão ao pescoço fazem parte da indumentária. Os sapatos têm conotação militar. As raparigas apresentam-se muito maquilhadas, com saias muito curtas e meias rasgadas ou calças de plástico. O piercing é o acessório que mais perturba nesta ruptura radical, com alfinetes de bebé e cavilhas colocados nos lábios.

Leitura: David Le Breton (2004). Sinais de identidade. Tatuagens, piercings e outras marcas culturais. Lisboa: Miosótis

 

Trabalho de Ana Raquel Castro Ferreira

As Duas Faces

Este é o vídeo que foi projectado na aula de Sociologia da Cultura. Para aceder, basta clicar na imagem.